Desta idéia, Dilma escreverá sua "Carta aos Brasileiros", como seu criador em 2001 o fez
Sérgio Lima/Folha
Escolhida há mais de dois anos por Lula e recebida pelo PT com o pé atrás, Dilma Rousseff será aclamada pelo partido, neste sábado (20), como candidata à sucessão presidencial.
Em mais uma evidência de que controla o PT com mão de ferro, Lula vestirá roupa de candidata em sua principal ministra sem enfrentar contestações na legenda.
Dilma fará, no encerramento do 4º Congresso Nacional do PT, organizado para servir-lhe de apoteose, seu primeiro discurso de candidata.
No texto, finalizado na noite passada, Dilma tenta se desvencilhar de seu primeiro desafio de campanha.
A candidata terá de se esquivar das teses radicais que o PT acomodou num pseudoprograma de governo concebido para o período pós-Lula.
A peça soa grandiloquente já no nome: “A Grande Transformação”. Redigiu-a o grão-petê Marco Aurélio Garcia, o amigo de Hugo Chávez que assessora Lula.
Na versão original, o texto já havia sido colorido de vermelho. Subemetido às cerca de 1.350 cabeças que participam do Congresso do PT, tonou-se ainda mais radical.
Aconselhada por Lula, Dilma cuidará de atenuar em seu discurso o esquerdismo do partido que a levará às urnas de 2010. Evitará endossar as teses que não encontram amparo na maioria da sociedade.
Dilma fará mais: acenará ao mercado com o compromisso de preservar os pilares da política econômica praticada sob Lula.
Em resumo, Dilma vai discursar para a platéia de marxistas e socialisas do PT de olho no único brasileiro que importa para ela no momento: o eleitor.
Para certificar-se de que o conteúdo da fala de Dilma não fugisse ao figurino, Lula acomodou do lado dela o marqueteiro João Santana e dois petistas moderados.
Assessoram a ministra na elaboração final do texto o ex-ministro da Fazenda Antonio Palocci e o ex-prefeito de Belo Horizonte Fernando Pimentel.
No penúltimo dia de seu Congresso, véspera da aclamação de Dilma, o PT turbinou o texto de Marco Aurélio, que já gotejava veneno.
Entre as teses tóxicas aprovadas pelo partido estão, por exemplo: redução da jornada de trabalho sem poda dos contracheques, taxação de grandes fortunas...
...Endosso incondicional ao controverso Plano Nacional de Direitos Humanos e fim do “monopólio” dos meios de comunicação eletrônicos. Leia-se: redes de rádio e TV.
São esses os temas que Dilma terá de tangenciar no discurso. Em dúvida, na noite passada, apenas a posição da candidata em relação ao plano de direitos humanos.
A depender da vontade de Dilma, a encrenca escalaria o discurso. Pela vontade de Lula, ficaria de fora.
Numa antecipação do plebiscito idealizado pelo governo para a campanha desse ano, Dilma se enrolará na mais vistosa bandeira da era Lula: a política social.
Dirá que, sob Lula, 20 milhões de brasileiros relegados a segundo plano em administrações anteriores escalaram o mercado de consumo.
Atribuirá a esse fenômeno boa parte do sucesso do Brasil no combate à crise financeira global.
Tomada pela versão mais recente do discurso, Dilma se apresentará como herdeira natural do legado de Lula.
E, para não parecer mera continuadora do já realizado, acenará com o aprofundamento do “êxito”.
A candidata defenderá o aprofundamento da estratégia de governo que combina o crescimento sustentável da economia com investimentos sociais.
Empilhará dados dos programas que lhe rendem a fama de gerente: PAC e Minha Casa, Minha vida.
Defenderá o papel do Estado como indutor do desenvolvimento econômico. Mencionará os gargalos ainda por superar no setor de infra-estrutura.
Afagará o eleitor com a promessa de tonificar os investimentos em áreas como educação, pesquisa científica e tecnológica e saúde.
Com essa plataforma de "Brasil grande", Dilma entra formalmente na campanha cinco meses antes do prazo previsto no calendário eleitoral do TSE.
Sem jamais ter disputado eleições, ergue os punhos na direção de um candidato que já foi deputado, senador, ministro e, hoje, governa o maior Estado da federação.
Em alta nas pesquisas, Dilma como que chama o tucano José Serra para a briga. O rival se autoimpôs um prazo mais elástico para subir ao ringue: final de março.
A cúpula do PSDB tenta, de novo, empurrar Serra para uma definição. Consolidou-se na oposição o entendimento de que a demora ajuda Dilma, protagonista de uma campanha solitária
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